Dona das marcas Consul e Brastemp, a norte-americana Whirlpool anunciou que começou 2022 operando com energia 100% limpa em duas de suas três fábricas de eletrodomésticos no Brasil. A mudança abrange as plantas de Rio Claro (SP) e Manaus (AM), e rendeu à empresa uma certificação internacional de rastreabilidade de energia renovável, a International Renewable Energy Certification Standard (I-REC). Essa conversão no plano de energia já havia começado nos escritórios da companhia no final do ano passado. Bernardo Gallina, vice-presidente de Assuntos Jurídicos, de Compliance e Corporativos da Whirlpool para América Latina, disse que a meta é adotar até 2024 a mesma solução em todo o parque fabril da empresa no Brasil. Hoje, a fábrica de Joinville, em Santa Catarina, é a única que ainda não conta com energia totalmente renovável.
Como a Whirlpool não tem um sistema gerador de energia limpa, ela agora compra energia renovável de fonte eólica, hidráulica e fotovoltaica de empresas certificadas. O custo tem sido cerca de 10% superior ao pago anteriormente. Apesar disso, avalia Gallina, os resultados obtidos têm compensado esse investimento. Só a adoção de energia 100% limpa nas fábricas de São Paulo e Amazonas já deverá fazer com que a empresa deixe de emitir 6,5 mil toneladas de CO2, 31% a menos em relação às emissões geradas em 2021 – e o equivalente a 43 mil árvores plantadas.
Gallina explicou que questões contratuais impedem que a planta de Joinville faça parte desse plano de conversão no momento. Mas a empresa também tem investido em ações para economizar energia. “Houve muito ganho com troca de lâmpadas e ventilação, por exemplo. Toda essa retirada gradual da emissão de gases do efeito estufa (principalmente CO2) corrobora para chegarmos a 2030 com o Net Zero, ou seja, tendo equilíbrio na nossa pegada de carbono”, disse.
O executivo lembra que ter apoio governamental também é importante para avançar em ações de sustentabilidade e Net Zero, compromisso que envolve zerar as emissões líquidas de gases de efeito estufa, emitidas direta e indiretamente. Na prática, diz ele, isso requer mais políticas públicas. “Aqui no Brasil, matriz energética poderia ser melhor do que já é, e isso é política pública. A educação das pessoas também é algo que precisa do apoio do governo. Tem vários itens em que a política pública faz a diferença para se ter um país equilibrado em ESG (práticas ambientais, sociais e de governança, na tradução do inglês)”, pontua.
Ele acredita que a implementação dessas políticas, por sua vez, pode refletir no comportamento do consumidor. Atualmente, mais de 90% dos produtos fabricados pela companhia são classificados como “A”, o melhor índice na escala Procel, desenvolvida pelo Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica. O selo mostra ao consumidor a eficiência e o gasto energético do eletrônico ou eletrodoméstico, em uma escala de A a E. Segundo Gallina, elevar essa taxa para 100% é uma mudança que exige mais tempo e demanda de mercado.
Zero resíduos para aterro
Além da energia limpa, a Whirlpool tem trabalhado com outras ações que impactam positivamente o meio ambiente, como o reúso de 98% da água no processo produtivo, a preservação de 370 mil metros quadrados de fauna e flora ao redor de seus parques fabris por meio de ações educativas, e a não geração de resíduos para aterros. Pioneira no país, essa última medida é resultado de um sistema de reciclagem de resíduos industriais e não industriais, que lhes oferece destinação correta. Nos cinco últimos anos, o montante de resíduos gerados diminuiu 23%. E, somente em 2021, 98,5% desse material foi reciclado.
Para alcançar esses percentuais, a companhia tem trabalhado com fornecedores locais no desenvolvimento de novas tecnologias que permitam reciclar o que é gerado. Em Rio Claro, por exemplo, um tipo de plástico de difícil reciclagem passou a ser empregado em sistemas de iluminação. O que não pode ser reciclado é encaminhado para reaproveitamento.
Gallina salienta ainda que, hoje, as fábricas da Whirlpool já nascem “verdes”. Ele cita como exemplo a unidade que está sendo construída na Argentina. Antes mesmo de iniciar suas operações, o espaço estará pronto para receber energia de fontes renováveis, com equipamentos que atuam com energia cinética, e também sistemas de recuperação de água da chuva, entre outras medidas. “Dentro da nossa indústria de linha branca [nome dado à indústria que produz eletrodomésticos não portáteis], não tem ninguém fazendo o que a gente faz. Conseguimos fazer reuso de 98% de água, por exemplo, há mais de cinco anos. “, completa Douglas Reis, diretor de ESG e Assuntos Regulatórios da companhia na América Latina.
Trabalho social com mulheres
As ações de sustentabilidade da corporação também envolvem o trabalho social com mulheres. Isso ocorre por meio do Consulado da Mulher, iniciativa presente em 23 estados e que já beneficiou mais de 37 mil pessoas em 20 anos. “Fazemos um projeto com mulheres de famílias em situação de vulnerabilidade, para que se tornem empreendedoras do que for mais fácil para elas. Temos muitas histórias tocantes de famílias e comunidades que tiveram sua realidade completamente alterada por causa da ação do consulado”, relata Gallina.
O trabalho compreende oficinas e treinamentos, doações de eletrodomésticos e recursos para melhoria do negócio, além de acompanhamento dos empreendimentos para planejar ações e analisar resultados. Uma pesquisa realizada no ano passado com participantes do programa entre 2016 e 2019 mostrou que 80% do público atendido ainda segue empreendendo.
O programa deve passar por expansão, mas de forma que não comprometa a qualidade do que já vem sendo desenvolvido, informou a companhia. Em abril, a Whirlpool lançará o documentário “Todo dia a é dia”, que ao longo de oito episódios conta a história de mulheres beneficiadas pela iniciativa.
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