Abordamos nos artigos anteriores por diversas vezes sobre o tratamento de efluentes, mas em nenhuma oportunidade relatou-se especificamente acerca dos tipos de tratamento biológico de efluentes, quais sejam: Aeróbio (com presença de oxigênio) e Anaeróbio (sem presença de oxigênio).
Ressalta-se que o tratamento biológico de efluentes é uma das opções mais eficientes para a degradação da matéria orgânica de efluentes biodegradáveis, sem contar o fato de ser umas das alternativas mais econômicas. O nome ?tratamento biológico? se dá pelo fato do processo ocorrer por ação de agentes biológicos como algas, protozoários e bactérias.
O especialista em saneamento Sr. Jorcy Aguiar, entende que:
?O tratamento biológico consiste na utilização de organismos que se proliferam na água, alimentando-se da matéria orgânica e, consequentemente, estabilizando o esgoto e eliminando a possibilidade de ele ?roubar? o oxigênio presente nos corpos d?água receptores, que é fundamental para manutenção da vida aquática.
O exemplo disso é o funcionamento de um aquário. Imagine um lambari que nada em um pequeno aquário. Nesta condição, mesmo sem alimentação externa, ele sobrevive respirando o oxigênio presente naquele volume de aguá até a sua exaustão. Porém, quando uma criança, na intenção de ajudá-lo, coloca um excesso de alimento, como um pedaço de pão, esta matéria orgânica também precisa do oxigênio para estabilizar- se e concorre com nosso peixinho ?roubando? oxigênio da água do aquário e reduzindo, assim, a vida neste ambiente.
Dessa forma, o tratamento biológico de efluentes é a eliminação da matéria orgânica por meio de um cultivo de bactérias.
Quando a ?digestão? do esgoto ocorre confinada em um tanque fechado, temos o tratamento biológico anaeróbio. Em caso contrário, quando insuflamos ar no esgoto, temos o tratamento biológico aeróbio?.
Vejamos mais sobre os 2 (dois) tipos de tratamento biológico de efluentes:
TRATAMENTO BIOLÓGICO AERÓBIO
O tratamento biológico Aeróbio se dá pela presença do oxigênio, já que os microrganismos degradam as substâncias orgânicas, que são assimiladas como ?alimento? e fonte de energias, por meio de processos oxidativos. Usualmente é mais utilizada em países desenvolvidos, já que Aeração necessária para fornecer oxigênio aos microrganismos aeróbios requer grandes quantidades de energia elétrica, além de produzir grandes quantidades de CO2.
O processo é extremamente complexo, já que o efluente precisa ser submetido a temperaturas específicas, estar com o pH e oxigênio dissolvido (OD) controlado, sem contar que deverá obedecer a relação da massa com os nutrientes de Demanda Biológica de Oxigênio (DBO) que variam com a biota formada em cada estação. Os sistemas aeróbios mais comuns são lagoas aeradas, filtros biológicos e os sistemas de lodos ativados que propiciam a melhor eficiência em remoção de cargas.
Vejamos as vantagens e desvantagens desse sistema de tratamento, destacadas em publicação da Tera Ambiental[1]:
Vantagens
- Comunidades e indústrias, principalmente do ramo de alimentos e bebidas, são beneficiadas quando o sistema é complementado pelo tratamento aeróbio.
- Maior rendimento, pois alcançam maiores taxas de remoção da matéria orgânica. Os sistemas de lodos ativados com aeração prolongada, por exemplo, atingem até 98% de eficiência na remoção de DBOs.
- Riscos reduzidos de emissões de odor e maior capacidade de absorver substâncias mais difíceis de serem degradadas.
Desvantagens
- Seu aspecto negativo é que esse sistema necessita de área extensa para implantação.
TRATAMENTO BIOLÓGICO ANAERÓBIO
- Ao contrário do que acontece no processo Aeróbico, no tratamento Anaeróbio NÃO temos a presença de oxigênio, ocasião em que a matéria orgânica é transformada em gás carbônico, metano, água e biomassa (Lodo). Vale esclarecer que na comparação ao processo aeróbico, a produção de biomassa é significativamente menor, visto que a taxa de crescimento dos microrganismos anaeróbios é baixa.
São exemplos de sistemas de tratamento Anaeróbio: Lagoas anaeróbias, os tanques sépticos, os filtros anaeróbios e os reatores de alta taxa, capazes de receber maiores quantidades de carga orgânica por unidade volumétrica, como os reatores UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket) ou RAFAs (Reatores Anaeróbios de Fluxo Ascendente).
Recomenda-se a existência de queimadores de gases nas instalações de tratamento pelo sistema anaeróbico, pois o processo converte parte da matéria orgânica em gás carbônico e metano, sendo que o metano é muito prejudicial para a camada de ozônio.
Além da possibilidade de causar problemas para a camada de ozônio, outro fato que deve ser ressaltado é o grande risco de emissão de odores nas instalação Anaeróbicas, consequência do gás metano. Contudo, dependendo do efluente a ser tratado, do controle realizado e das características dos equipamentos, há severa diminuição nos odores emitidos.
Vejamos as vantagens e desvantagens desse sistema de tratamento, destacadas em publicação da Tera Ambiental[2]:
Vantagens
- Mecanização reduzida e baixo consumo energético: não é preciso fazer a injeção de ar no sistema, há geração de menor taxa de lodo residual e, em geral, é necessária menor área para sua instalação.
- Trata efluentes com altas concentrações de substâncias orgânicas.
Desvantagens
- Necessidade de temperatura relativamente alta preferencialmente entre 30º e 35º C para uma boa operação. Efluentes diluídos podem não produzir metano suficiente para o aquecimento, representando uma limitação no processo.
- Lenta taxa de crescimento das bactérias produtoras de metano, por isso longos períodos são necessários para o início do processo, limitando os ajustes de acordo com a mudança na carga do efluente, temperatura e outras condições do ambiente.
Esses são os modelos de tratamento de efluentes biológicos mais utilizados, sendo que a empresa que aderir e instalar estações de tratamento em sua sede, além de contribuir com o meio ambiente, poderá criar uma parceria com o município em que está instalada a sede, criando-se uma parceria publico-privada (já debatida em artigos anteriores), beneficiando o município no cumprimento das exigências da Politica Nacional dos Resíduos Sólidos.
Mas também há os benefícios próprios, ainda mais se levarmos em consideração os diversos pontos críticos que podem fazer as empresas serem multadas, como descuido, documentação, custos, processos, transporte, terceirização para empresas não competentes, inobservância ou desconhecimento das legislações aplicáveis, entre outros.
Vejamos alguns casos, em que empresas foram multadas por infringirem a legislação e prejudicarem o meio Ambiente:
- O Ministério Público ajuizou em outubro de 2012 uma ação contra uma concessionária pública de São Paulo, no valor de R$ 11,5 bilhões em função do lançamento de esgoto sem tratamento nos rios e represas da região metropolitana de São Paulo.
- Também em 2012, o Ibama integrou a operação Água Grande, de investigação da Polícia Federal (PF), para levantar irregularidades de uma empresa de saneamento do Paraná, que não cumpria a legislação ambiental ao lançar efluentes sem tratamento da ETE. A empresa foi multada em R$ 35 milhões por lançar dejetos sólidos e em mais R$ 200 mil por causar poluição. A PF investigou o caso por dois anos, já que os crimes são de natureza grave.
- A Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam) multou em R$ 40 mil uma indústria no Vale do Taquari, pelo lançamento de efluentes orgânicos que podem ter sido responsáveis pela morte de mais de 500 peixes no arroio Sampaio. O produto orgânico gerado pela fabricação de farinha de osso teria causado o problema. A empresa era autorizada a fazer o despejo em área de reflorestamento, para servir como adubo, mas a licença ambiental estava vencida e não se referia a lançamentos na água.[3]
Para que as empresas evitem esse tipo de ?surpresa?, é válido o investimento em infraestrutura capaz de cumprir as exigências da legislação vigente e até mesmo se sobressair ao disposto em Lei, criando-se uma imagem positiva da empresa, além de contribuir de forma fundamental para preservação do Meio Ambiente.