O coprocessamento é definido como a substituição do combustível fóssil, o coque de petróleo, em fornos da indústria de cimento por combustíveis alternativos, como resíduos e biomassas. Durante o processo produtivo do cimento, os fornos nas fábricas demandam um alto consumo de energia térmica, atingindo temperaturas de até 1,5 mil graus Celsius. Essa temperatura é necessária para transformar o calcário, a argila e o minério de ferro em clínquer, que é o material base na composição do cimento.
É consenso que o coprocessamento é uma das principais ferramentas para a indústria cimenteira reduzir a emissão de CO2 em seu processo produtivo e conseguir desenvolver um concreto neutro em carbono até 2050. O processo passou a ser reconhecido mundialmente como uma tecnologia de destinação de resíduos não recicláveis adequada e ambientalmente correta. O aproveitamento energético dos resíduos pelos fornos da indústria de cimento evita o depósito desses materiais em aterros e lixões e reduz a demanda da indústria por combustíveis fósseis.
Por meio dessa tecnologia limpa e segura, os resíduos são completamente destruídos nos fornos, sem restar qualquer passivo ambiental devido às altas temperaturas a que são submetidos, necessárias para o processo de fabricação do clínquer. É também um exemplo prático do conceito de Economia Circular por promover um ciclo de renovação e reaproveitamento, alavancando a cadeia de valor e a parceria entre vários setores da economia, tal como destacado no Objetivo de Desenvolvimento Sustentável número 17 da ONU – Parceria em Prol das Metas.
História
Na Europa, Estados Unidos e Japão, o coprocessamento foi implementado desde a década de 1970. No Brasil, essa tecnologia, que passou a ser utilizada em 1991 pela Votorantim Cimentos. Os pneus inservíveis, pneus de carro, caminhão e até tratores, que não podem ser mais recuperados, foram o primeiro tipo de material utilizado como combustível, dando uma destinação final adequada para esse tipo de rejeito. Desde então, foram desenvolvidas pesquisas para que outros tipos de resíduos também passassem a ser utilizados, de acordo com o poder calorífico e outras características necessárias para serem introduzidos no processo.
Resíduos usados no coprocessamento
É importante destacar que todos os resíduos utilizados no coprocessamento são não recicláveis, ou seja, não podem ser reaproveitados na cadeia de reciclagem, e são conhecidos como CDR (Combustível Derivado de Resíduo).
Atualmente, diversos tipos de resíduos podem ser coprocessados – os principais são:
- Resíduos sólidos industriais, urbanos e comerciais: equipamentos de proteção individual contaminados (EPIs), filtros de óleo, borras e solventes, que estão proibidos de serem enviados para aterros sanitários industriais. Espumas, esponjas de cozinha, acrílico, tomadas, embalagens metalizadas (como as de café e salgadinho), isopor, plástico filme, etiquetas adesivas e diversos tipos de papel, como papéis plastificados, engordurados, papel carbono, parafinado ou resinado, fotografias, papel celofane.
- Resíduos líquidos e pastosos: borras de tinta e oleosas, lodos de estação de tratamento, como resíduos de limpeza de tanques.
- Resíduos agrícolas e biomassas: caroço de açaí, coco de babaçu, casca de arroz, bagaço de cana, casca de trigo, cavaco de madeira, caroço de azeitona, entre outros resíduos das cadeias agroindustriais
- Os resíduos da produção agrícola, na maioria dos casos, não são reaproveitados, o que pode se tornar um problema para os agricultores. A disposição desses materiais de forma inadequada no meio ambiente gera potenciais riscos de contaminação tanto do solo quanto da água, assim como a degradação em metano, gás com grande potencial causador de efeito estufa. Na colheita de arroz, por exemplo, o espaço ocupado pela casca prejudica o giro do processo de escoamento do produto e causa impacto ambiental devido ao longo prazo para sua degradação.
- A utilização desses resíduos não gera nenhum novo rejeito no processo de produção do cimento nem afeta a qualidade do produto final. Também contribui para a redução de materiais enviados para aterros sanitários e da quantidade utilizada de combustíveis fósseis, o que resulta em um efeito positivo na redução das emissões de CO2 da indústria e de outros gases nocivos do processo de decomposição, como o metano, que seriam gerados nos aterros e lixões.
Economia circular
A solução ambiental do coprocessamento cumpre a legislação vigente no Brasil por meio de uma tecnologia limpa que não gera passivos e ainda transforma materiais que antes eram considerados resíduos em matérias-primas, promovendo assim a economia circular.
A gestão de resíduos é um desafio para as empresas, governos e para a sociedade. Os resíduos são um enorme passivo ambiental para o planeta e representam risco para a saúde e para o meio ambiente. Segundo dados do painel de resíduos sólidos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), são geradas mais de 700 milhões de toneladas de resíduos industriais por ano.
A Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) aponta, no estudo Panorama de Resíduos Sólidos de 2022, que o Brasil produz cerca de 80 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos por ano. Deste volume total, 39% ainda têm uma destinação inadequada e são levados para aterros, onde levam dezenas de anos para se decompor.
A urgência do tema no Brasil levou à criação da Lei número 12.305/10, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que tem o objetivo de impulsionar o gerenciamento responsável dos resíduos sólidos no país. A PNRS estabelece objetivos na gestão dos resíduos sólidos no país, como a redução na geração de rejeitos, o impulsionamento da reciclagem e da reutilização de materiais, além da inclusão social dos catadores. Para isso, a lei estabelece hierarquia na gestão destes materiais e exige plano de gerenciamento dos municípios.
Dentro do conceito de hierarquia de resíduos, o coprocessamento é uma tecnologia complementar a outras disponíveis atualmente. Essa hierarquia determina como prioridade a não geração de resíduos, seguida pela redução, reutilização, reciclagem, tratamento e, como última alternativa, a destinação em aterros sanitários. Dentre as opções de tratamento, está o coprocessamento.
Diversos setores da economia têm optado por esse tipo de destinação sustentável. Empresas do setor agrícola, químico, alimentício, automobilístico, papel e celulose, assim como comercial, como shopping centers e grandes redes de varejo, já utilizam o coprocessamento como uma solução segura e sustentável para a gestão e destinação de seus resíduos.
O coprocessamento é uma forma de transformar resíduos que não podem ser reciclados em fonte de energia limpa, em vez de serem descartados. Essa tecnologia é uma alternativa para transformar dois problemas, tanto a geração de resíduos quanto a demanda por combustíveis fósseis, em uma solução para as empresas e para o meio ambiente.
FONTE: https://ciclovivo.com.br/planeta/desenvolvimento/o-que-e-coprocessamento/