A transição energética tem sido apontada como uma das soluções de maior impacto para a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE). Por isso, a temática da energia renovável é o centro de muitas discussões.
A EXAME organizou uma série de conversas sobre as perspectivas para o avanço da energia renovável no Brasil. Participam das discussões especialistas, executivos que trabalham pela energia renovável no Brasil, líderes e stakeholders envolvidos nas principais tomadas de decisão do setor produtivo, acadêmico e governamental.
O segundo painel tem como tema a “Política Industrial Verde e Atração de Investimento”, com a participação de Elbia Gannoum, presidente executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), Renata Isfer, presidente executiva da Associação Brasileira de Biogás (Abiogás), e Jefferson de Oliveira Gomes, diretor de Inovação da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com a mediação de Natalia Viri, editora do Exame Insight.
A representante do setor eólica cita as dificuldades do setor nos últimos dois anos, um retrato da falta de calibragem entre oferta e demanda. A solução para transformar desafios em oportunidades, defende Elbia, é que a atividade passe a contar com uma política estruturante que permita alongar o horizonte de crescimento.
A presidente da Abeeólica lembra que até agora o setor “andou com as próprias pernas”. Depois de um aumento das contratações via mercado livre de energia, afetadas nos últimos anos pelo baixo crescimento da economia, “o que se vê agora é que o fôlego está acabando”, aponta. Apesar da desaceleração em parte da atividade, ainda há muito o que ser explorado nos próximos anos. É o caso da energia eólica offshore, que ainda depende de aprovação de lei, regulamentação para só então começarem a ser realizados os leilões de cessão de uso do mar, seguidos dos estudos ambientais e, finalmente, as licenças para o início da exploração.
Da teoria à prática
Elbia reforça que nunca houve tantas oportunidades quando se fala do papel do Brasil no desenvolvimento de projetos de energia renovável, mas lembra que chegou o momento de transformá-las em realidade.
A chamada “Nova Indústria Brasil”, apresentada recentemente pelo vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin, ainda que com ressalvas, é a esperança de quem acompanha de perto a energia renovável no país.
O documento do governo tem como base do desenvolvimento econômico a inovação e a sustentabilidade por meio do apoio a pesquisas e a tecnologia nos mais diversos segmentos, com responsabilidade social e ambiental, segundo o texto apresentado.
“Já sabemos qual é o caminho, por isso agora é preciso olhar para o detalhe para avançar”, avalia Elbia, citando como exemplo o caso do hidrogênio verde, que ainda carece de regulamentação.
Potencial do biometano
Renata, da Abiogás, também está segura quanto ao potencial de crescimento dos projetos de energia renovável no Brasil. No caso do biometano, atualmente há 6 plantas em operação e outras 18 em processo de aprovação pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
A Abiogás projeta que o país chegará a 90 plantas até 2029, passando da produção diária atual de 417 mil metros cúbicos para cerca de 7 milhões de metros cúbicos.
Na análise de Renata, o biometano é uma alternativa para avançar com a pauta da descarbonização, em especial na agroindústria, que pode usar a produção como combustível em substituição ao diesel e como biofertilizante, integrante ao negócio o modelo de economia circular. Calcula-se, de acordo com a executiva, que o biometano tenha potencial para chegar a 120 milhões de metros cúbicos no Brasil – o dobro do que se usa atualmente de gás natural.
Apesar de todo o potencial para fontes renováveis, como o biometano, a presidente executiva da Abiogás, assim como a representante da Abeeólica, alerta para a necessidade de uma política direcionada ao setor. Ela cita os riscos de perdas que o Brasil pode ter, por exemplo, ao exportar matérias-primas e energia limpa e arcar com o custo elevado de importar produtos manufaturados de baixo carbono. “O Brasil tem toda a oportunidade na mão para sair dessa cilada”, diz Renata.
Consumo e tecnologia andam juntos
Gomes, da CNI, acredita que o ponto de partida para que o Brasil de fato avance na pauta seja olhar o setor como política de Estado, não como política de governo. O diretor da CNI aponta para outras demandas importantes. Entre elas, a construção de uma trajetória que contemple tanto as condições para o consumo quanto para atender ao crescimento da demanda, por exemplo, na parte de evolução das tecnologias.
“Por exemplo, um barco com energia solar na Amazônia precisa de alguém que faça a sua manutenção. Temos profissionais que façam isso naquela região?”, aponta o diretor de Inovação.
Gomes cita outro exemplo: o do hidrogênio. O risco de corrosão intergranular com o passar do tempo traz a necessidade de desenvolvimento de equipamentos mais resistentes para a geração de grandes potências. Por isso é tão importante a integração da cadeia de valor, lembra o diretor da CNI.
FONTE: https://exame.com/esg/brasil-deve-abandonar-a-teoria-quando-o-assunto-e-politica-industrial-verde/